domingo, 20 de maio de 2007

Sexo Virtual


Fonte : André Machado - jornal O Globo / ´´ Informática Etc. ´´ - 10/07/2006

Mundos virtuais eróticos e RPGs centrados no prazer povoam a internet e permitem criar personagens voluptuosos para relações virtuais em vários cenários

A expressão "sexo virtual" ganhou uma nova conotação. Não se refere mais só a sites de encontros ou sites eróticos ou pornográficos. Agora a vez é a dos mundos e jogos virtuais centrados no sexo. Já existem alguns funcionando nos EUA, como o Sociolotron, o Jewel of Indra e o Red Light Center. Também está chegando o Naughty America. A maioria é paga através de assinaturas mensais. E todos eles, sem exceção são voltados para maiores de 18 ou 21 anos, pedindo que o usuário confirme ser maior de idade antes de entrar no site.

Em essência, os mundos virtuais eróticos são como qualquer outro mundo virtual: gráficos 2D ou 3D, chats, eventos e locais temáticos. Mas eles não poderiam ser mais diferentes entre si. O Jewel of Indra, por exemplo, segue o estilo universo paralelo. Na verdade, é uma comunidade de chat em três dimensões, que tem moradores com seus avatares. "Somos um portal para todas as coisas adultas, sexuais e picantes", diz a descrição no site.

O Jewel deixa bem claro que não é um game. Os muitos avatares são bonitos e com corpos voluptuosos, e podem escolher andar nus pelo lugar. Há várias áreas para encontros virtuais, um banco de imagens eróticas, casas 3D que se pode escolher para morar, música "climática", filmes adultos (que passam na casa 3D do avatar), e até dinheiro virtual, chamado Community Credits. Esse dinheiro pode servir para transações de compra e venda de objetos 3D criados pelo próprio personagem do usuário.

Áreas para heteros, gays e sexo em grupo


As áreas são separadas por categoria. Há áreas para nudistas, heteros, gays e lésbicas, para os amantes do sexo grupal e até "sexo gótico", seja lá isso o que for. Há eventos de vários tipos - jogos, festas online, caçadas (como pequenos RPGs dentro do mundo virtual), palestras... O Jewel tem ainda a vantagem de apresentar chat falado (usando a tecnologia TTS - text to speech), e o personagem pode escolher sua própria voz.

Já o Sociolotron é bem mais barra-pesada. Trata-se de um RPG para adultos que querem viver suas fantasias ao máximo. Não se trata só de matar monstros (embora eles existam no game), mas de se misturar com avatares de outras pessoas, sair com eles, transar, e até mesmo constituir família. Mas há o "lado negro da Força" nesse game, que permite coisas como prisões, chantagens, perversões e até assassinatos. E aí o avatar "morre" mesmo, sem a chance de ressurreição como em outros RPGs. A idéia, segundo os criadores do game, é deixar que os próprios jogadores resolvam suas disputas online.

Um game politicamente incorreto até dizer chega

O game aborda assuntos complicadíssimos como intolerância religiosa e racial, drogas, prostituição, sexo nada seguro e blasfêmias diversas. Não poderia ser mais politicamente incorreto, e por isso mesmo avisa com todas as letras que nada que acontece no RPG deve ser levado para o mundo real. Inclusive, o jogo não dá nenhum contato dos donos dos avatares na vida real e desencoraja totalmente os jogadores de se encontrarem no dia-a-dia. Algo que é, ao contrário, encorajado no Jewel of Indra, que já teve casais reais formados depois de primeiros encontros como avatares, na rede.

O Sociolotron tem cultos baseados em práticas sexuais e seus avatares têm uma espécie de nível de tesão (sexual urge). Naturalmente, podem configurar suas preferências (hetero, gay etc). O sistema de cibersexo tem vários tipos de posições e o sadomasoquismo é livre - quem curte submissão, algemas, chicotes, correntes e outros fetiches pode usá-los virtualmente. Ah, e os personagem podem ter filhos que sejam seus herdeiros em caso de morte permanente.

Outro mundo do sexo é o Red Light Center, totalmente pornô. Os avatares são especialmente voluptuosos aqui, e o site alardeia ter milhares de filmes de sexo. Há clubes de strip-tease, discotecas em que se dança nu, quartos de motel e eventos onde se pode trocar histórias eróticas, em chats com voz. Esse ambiente virtual é voltado somente para o sexo e também pode levar a encontros reais.

O quadro de eventos também inclui shows de danças exóticas, concursos de tatuagens e outras festas centradas em transas.

A próxima atração na esfera dos mundos "sexy" virtuais será o Naughty America, que será inaugurado em breve. A idéia do game é ser o mais picante (naughty) possível, com sexo grupal e em todas as posições possíveis, festas repletas de erotismo e atividades voyeurísticas. Os avatares poderão "filmar" suas transas e mostrar para os amigos.

Zona boêmia e clima de praia nos muitos cenários

Como os demais universos, o Naughty America também tem vários cenários. Em Downtown fica a vida noturna: boates, becos escuros, sex shops, apartamentos e fliperamas. Já Uptown tem cafés, um cassino, um parque e condomínios de luxo. The Beach (a praia) apresenta casas de veraneio, cruzeiros em navios, calçadão para paqueras, clubes com bares à beira da piscina e assim por diante. Esse game conta com suporte a webcams se a coisa entre os avatares ficar mais quente.

A lista de mundos é interminável. Tem até o peep show Virtually Jeena, em que o usuário pode transar (virtualmente) com a stripper no fim. Além do Naughty America, estão chegando ainda à rede o Virtual Hottie 2 e o Rapture Online, da Black Love Interactive.

A questão é: enquanto permanece virtual, as pessoas realmente conseguem tirar prazer do sexo? Fizemos a pergunta ao psicanalista Alberto Goldin.

- O mundo da fantasia está se tornando mais real, mais concreto - diz Goldin. - A fantasia solitária era como um filme subjetivo na nossa cabeça, mas a internet faz com que esse sonho se realize numa "mente" virtual à nossa frente.

Goldin explica que até agora a fantasia delirante solitária era vista como um tipo de psicose.

- É um universo irreal em que a pessoa fala e responde a si mesma, numa estrutura de um delírio paranóico. Só há um produtor aí, ninguém mais interage. Com a internet, o delírio pode ser compartilhado. Serão então os grupos todos delirantes? E com essa mudança como fica o diagnóstico da psicopatologia? Sem dúvida, é um problema para psicanalistas e sociólogos... Porque as situações objetivas nesses mundos já não se encaixam na definição tradicional de delírio.

Mas prazer ele diz que há, sim: o de não estar sozinho, mesmo virtualmente.

- O jogo masturbatório, com esses mundos, passa a não ser mais individual.

Sexo pode ser virtual, mas interação é verdadeira

Para a sexóloga Regina Navarro Lins, autora do "Livro de ouro do sexo", as pessoas ainda não concebem direito a idéia do cibersexo, mas isso vai mudar.

- Muita gente se choca com esses mundos e chats de sexo, diz que sexo real não é isso, que precisa ter as duas pessoas presentes, um clima, etc - diz. - Mas não se pode comparar esse sexo virtual com o sexo real. O sexo virtual é um tipo diferente de relação. E, muito embora ele possa ser virtual, a interação que você tem com a outra pessoa, mesmo oculta por seu personagem, é real. Há um "timing" mesmo no sexo virtual; os dois lados precisam interagir e decidir como funciona melhor a relação. O sexo online pode, assim, ser bom ou não.

Regina vaticina que estamos entrando numa nova fase da história da humanidade, em que o virtual vai invadir de vez nossas vidas, e a cabeça das novas gerações vai acompanhar isso. Talvez aí o cibersexo seja mais bem compreendido e apreciado.

'O jogo masturbatório, com esses mundos na internet, passa a não ser mais uma coisa individual. Há o prazer de não estar sozinho, mesmo virtualmente' ALBERTO GOLDIN,psicanalista

'Há um timing mesmo no sexo virtual; os dois lados precisam interagir e decidir como funciona melhor a relação. O sexo online pode, assim, ser bom ou não' REGINA NAVARRO LINS, sexóloga

Um comentário:

disse...

:) Onde esse mundo vai parar ein Ioldanach?!
Muito interessante o texto, vou utilizar no meu trabalho...